quarta-feira, 22 de maio de 2013

entre o colossal e o abissal

Duas ideias que partilham o mesmo destino, o profano e o divino. Todos temos deuses e demónios interiores; uns que nos aliviam as dores e outros que nos atormentam com horrores. Mas os deuses não nos podem salvar das profundezas do mar se o nosso barco afundar e não soubermos nadar. Quem nos salva somos nós que, com o nosso próprio destino, todos lutamos sós. A grandeza de tudo o que é humano reduz-se a espessura de cabelo mais fino do que qualquer fio a partir do qual é tecido um simples pano. Essa grandeza talvez seja a esperteza. Talvez apenas seja a insatisfação de um ser que, por natureza, tem sempre menos do que deseja. O ser humano é uma criança perdida entre o colossal e o abissal, ambos sinónimos de uma grandeza maior que ultrapassa a limitada compreensão do ser pensador.
Os demónios, onde estão? Eles aparecem. É só esquecermos o coração. Depois disso, são os demónios que não nos esquecem. Se formos maus, as nossas vidas tornam-se naus, barcos sem fundo que nos deixam afogar nas tormentas do mundo. Mas há sempre aquela esperança de que depois da tempestade vem a bonança. Mas alguém sabe mesmo o que isso é se não tiver fé? Mas tem de ser uma fé que faz seguir caminho em vez de regredir em marcha-a-ré. Só se consegue essa proeza com uma vontade de acreditar que nos vem daquele lugar onde só com muita coragem se enfrenta a incerteza. O lugar somos nós. Se não o conseguirmos encontrar estaremos sempre sós.


(a partir de uma imagem de  Dehong He)

3 comentários:

carpe vitam! disse...

Entre o colossal e o abissal, passando pelo descomunal com uma paragenzita no genial... a imagem é impressionante. Muito bom o trabalho do chinês, gracias por me dares a conhecer. Depois de ler o texto, vi esta imagem, que embora não disponha da colossalidade ou abissalidade da que apresentas, é bastante simples, funcional e não deixa de ser verdadeira: https://fbcdn-sphotos-a-a.akamaihd.net/hphotos-ak-ash4/375033_593553004002617_872851616_n.jpg

Manuel Alves disse...

O texto foi a resposta a um desafio de escrita a partir da imagem. A descrição de uma batalha épica talvez seja a opção mais imediata, mas essa história já é contada (e bem) pela própria imagem.

carpe vitam! disse...

Existe uma enorme variedade de batalhas épicas. As que se travam com as circunstâncias, com os outros, com nós próprios... ou com tudo isso em simultâneo. Eu percebi essa ideia do desafio, simplesmente o texto sugeriu-me outras coisas e quando vi a outra imagem, resolvi partilhar também. só isso :)