quarta-feira, 16 de julho de 2014

bem-me-quer

 imagem: Manuel Alves

Pode uma flor adivinhar o amor? A razão diz que não, mas o coração comanda a mão e continuamos a arrancar pétalas para o chão.
E a flor chora as lágrimas que tem, adivinhe o mal ou o bem. O seu destino é morrer, e o nosso é não querer saber. Se me disserem que uma flor não pode chorar, direi que acredito nas fantasias que quiser. Se há quem acredite que as flores podem adivinhar, eu acredito que podem sofrer.
És a pessoa da minha vida. Não és. És a salvação da minha vontade perdida. És apenas mais uma pétala caída aos pés. Brincadeira de criança às voltas com a esperança. A vontade nunca é saber. Na verdade, é apenas querer. Não jogamos a probabilidade da última pétala arrancada para sabermos se somos pessoa amada. Pensamos que a sorte deve-nos a igualdade de sermos encontrados pela pessoa encontrada. Queremos quem escolhemos, e arrancamos uma flor do chão para lhe perguntarmos a decisão.
Sim? Não? Sim. Oh, diz que sim. Não. Oh, não digas que não.
Tudo o que a flor diz é lamento triste, apertada na mão que não desiste. Tudo o que a flor pode fazer, é ficar sem pétalas até morrer.
E nós ficamos sem resposta, porque o futuro é sempre uma aposta. Se queremos saber, temos de arriscar. Vivemos na direcção do querer e, se a indecisão é medo de sofrer, podemos sempre parar, descansar e respirar. A cabeça fica mais leve e percebemos que a vida é mesmo, mesmo… mesmo breve. Torna-se mais claro o valor do momento, o aqui e agora. Faz-se reparo em tudo o que for sentimento e percebemos o sacrifício vão daquele pedacinho de flora.
A pétala que fica para o fim não diz o que outro coração sente por mim. Diz apenas que podemos matar uma flor em nome de um talvez amor.
Mas flores há em número infindável. Uma é perda aceitável. Já o amor é sempre um. Aquele e mais nenhum. Pelo menos, até ao que vem a seguir. Aquele que vive nas pétalas de uma flor, que precisamos de arrancar para descobrir.