Pode uma flor adivinhar o amor? A razão diz que
não, mas o coração comanda a mão e continuamos a arrancar pétalas para o chão.
E a flor chora as lágrimas que tem, adivinhe o mal
ou o bem. O seu destino é morrer, e o nosso é não querer saber. Se me disserem
que uma flor não pode chorar, direi que acredito nas fantasias que quiser. Se
há quem acredite que as flores podem adivinhar, eu acredito que podem sofrer.
És a pessoa da minha vida. Não és. És a salvação
da minha vontade perdida. És apenas mais uma pétala caída aos pés. Brincadeira
de criança às voltas com a esperança. A vontade nunca é saber. Na verdade, é
apenas querer. Não jogamos a probabilidade da última pétala arrancada para
sabermos se somos pessoa amada. Pensamos que a sorte deve-nos a igualdade de
sermos encontrados pela pessoa encontrada. Queremos quem escolhemos, e
arrancamos uma flor do chão para lhe perguntarmos a decisão.
Sim? Não? Sim. Oh, diz que sim. Não. Oh, não digas
que não.
Tudo o que a flor diz é lamento triste, apertada
na mão que não desiste. Tudo o que a flor pode fazer, é ficar sem pétalas até
morrer.
E nós ficamos sem resposta, porque o futuro é
sempre uma aposta. Se queremos saber, temos de arriscar. Vivemos na direcção do
querer e, se a indecisão é medo de sofrer, podemos sempre parar, descansar e
respirar. A cabeça fica mais leve e percebemos que a vida é mesmo, mesmo… mesmo
breve. Torna-se mais claro o valor do momento, o aqui e agora. Faz-se reparo em
tudo o que for sentimento e percebemos o sacrifício vão daquele pedacinho de
flora.
A pétala que fica para o fim não diz o que outro
coração sente por mim. Diz apenas que podemos matar uma flor em nome de um
talvez amor.
Mas flores há em número infindável. Uma é perda
aceitável. Já o amor é sempre um. Aquele e mais nenhum. Pelo menos, até ao que
vem a seguir. Aquele que vive nas pétalas de uma flor, que precisamos de
arrancar para descobrir.