terça-feira, 27 de maio de 2014

Eu, Wulfric

BREVEMENTE
 imagem: Manuel Alves
WULFRIC
As Cativas de Mefistófeles

Esta história tem anjos, demónios, fadas, lobisomens, marinheiros russos, traições, pedras preciosas que são mais do que jóias, um crucifixo que sangra, pelo menos uma sociedade secreta, Lúcifer, Mefistófeles, um marquês que foi para o Inferno e se transformou num demónio nu e, é claro, Wulfric, o Mestre que vive com uma maldição aprisionada no sangue.

“O mundo dos humanos é uma ilusão apenas perceptível por aqueles que se movem nas margens da realidade. Conheço muitas realidades, todas construídas de enganos que competem para se tornarem a ilusão prevalecente.”

Wulfric, O Livro Secreto das Ilusões

terça-feira, 6 de maio de 2014

o perdão das coisas

 imagem: Manuel Alves

Se de repete tudo fosse perdoado, nunca teria acontecido nada errado. O mundo seria felicidade e o passado apenas saudade, saber acumulado. Mas as coisas não se perdoam assim. Eu tenho maldade para ti e tu para mim. Não é ressentimento inimigo, é apenas equilíbrio justo de tudo o que é sentido.
Ninguém é imune ao fel. Mas quem sabe que não é a isso que tudo se resume reserva paladar para o mel. Reconhece o prodígio do sorriso, mesmo que o fim do mundo chegue amanhã sem aviso. É a humanidade em nós. Se não perdoarmos às vezes, ficaremos sempre sós. Na prisão do peito, vida sem jeito.
No fundo, não vale a pena odiar. O mundo é história contada em outra cena, é amar. Há maldades que fazem duvidar da bondade que temos. Verdades que fazem chorar pela insanidade que vemos. Somos tudo isso e mais. Umas vezes, muito humanos. Outras vezes, animais.
Temos fome de tudo e devoramos o infinito. Comemos a própria fome e acreditamos que é bonito. Mas também somos capazes de encontrar o equilíbrio no meio. Mesmo vorazes, partilhamos o pão de mão em mão, porque sabemos que negar alimento é feio.
Somos a totalidade das coisas belas, feias e intermediárias. Somos a Humanidade, com todas as suas sequelas, o sangue nas veias a pulsar de possibilidades imaginárias. Cada um de nós, pessoa pequena, é sonho de conseguir o impossível. Cada um é a sua própria voz, protagonista na principal cena, e é medonho não ouvir nem ser audível.
Todos choramos de alguma solidão na cama. Todos amamos alguma ilusão que não nos ama. O choro vem e não está lá ninguém. E o desaforo também. Quem pensam que sou? Quem? O mundo não acabou. O futuro é além.
E perdoamos a quem nos perdoaria porque é a forma mais elevada de sabedoria. Porque amamos essas pessoas, que para uns são más e para outros são boas. Como nós, que queremos o perdão porque a culpa é o castigo mais atroz que agride o coração.