Pode uma flor adivinhar o amor? A razão diz que
não, mas o coração comanda a mão e continuamos a arrancar pétalas para o chão.
E a flor chora as lágrimas que tem, adivinhe o mal
ou o bem. O seu destino é morrer, e o nosso é não querer saber. Se me disserem
que uma flor não pode chorar, direi que acredito nas fantasias que quiser. Se
há quem acredite que as flores podem adivinhar, eu acredito que podem sofrer.
És a pessoa da minha vida. Não és. És a salvação
da minha vontade perdida. És apenas mais uma pétala caída aos pés. Brincadeira
de criança às voltas com a esperança. A vontade nunca é saber. Na verdade, é
apenas querer. Não jogamos a probabilidade da última pétala arrancada para
sabermos se somos pessoa amada. Pensamos que a sorte deve-nos a igualdade de
sermos encontrados pela pessoa encontrada. Queremos quem escolhemos, e
arrancamos uma flor do chão para lhe perguntarmos a decisão.
Sim? Não? Sim. Oh, diz que sim. Não. Oh, não digas
que não.
Tudo o que a flor diz é lamento triste, apertada
na mão que não desiste. Tudo o que a flor pode fazer, é ficar sem pétalas até
morrer.
E nós ficamos sem resposta, porque o futuro é
sempre uma aposta. Se queremos saber, temos de arriscar. Vivemos na direcção do
querer e, se a indecisão é medo de sofrer, podemos sempre parar, descansar e
respirar. A cabeça fica mais leve e percebemos que a vida é mesmo, mesmo… mesmo
breve. Torna-se mais claro o valor do momento, o aqui e agora. Faz-se reparo em
tudo o que for sentimento e percebemos o sacrifício vão daquele pedacinho de
flora.
A pétala que fica para o fim não diz o que outro
coração sente por mim. Diz apenas que podemos matar uma flor em nome de um
talvez amor.
Mas flores há em número infindável. Uma é perda
aceitável. Já o amor é sempre um. Aquele e mais nenhum. Pelo menos, até ao que
vem a seguir. Aquele que vive nas pétalas de uma flor, que precisamos de
arrancar para descobrir.
14 comentários:
Aprecio esses "pedacinhos de flora" no seu devido lugar, que é nos campos, é coisa que me apraz contemplar.
Claro que já assassinei flores, mas nunca na vã esperança de que, após torturadas, me dissessem alguma coisa...
Especialmente afetos de gente, que saberão disso? E por que é se espera a correspondência do amor? E por que é que só pode ser um de cada vez?
Não, não vou procurar respostas na flora. Vou antes apreciar os campos pintados de flores e a companhia de quem quiser vir comigo.
Excelente texto e ótima reflexão...
Aprecio seu jeito de escrever!!!
Parabéns:)
Olá, carpe. :)
Mesmo a gente percebe pouco os próprios afectos. Nesse departamento, as flores não são mais sábias (mas só nesse :D ). Não sei se todos esperam a correspondência do amor, mas (provavelmente) todos a desejam. E onde está escrito, de modo absoluto e intransgressível, que só pode ser um? Não procures a resposta nas pétalas. ;)
--
Olá, Cristiane. :)
Alguém tem que defender as flores. ;)
Sim, quem não a deseja, à tal da Correspondência? Mas há que saber viver quando isso não acontece. "E onde está escrito, de modo absoluto e intransgressível, que só pode ser um?" Provavelmente, em lado nenhum, apesar de existirem uns quantos livros de leis e religiões que o preconizam.
Não faço dessas perguntas às flores, antes pego na bicicleta e https://scontent-b-mad.xx.fbcdn.net/hphotos-xpf1/v/t1.0-9/10390551_905783909447023_6458198300435038064_n.jpg?oh=b9c4d6897d1bc43d5201823e65a2c799&oe=54431343
És uma raio de um malmequer brilhante pah! Texto divinal :)
carpe, o amor preocupa-se mesmo com leis e religiões... :D
Encontrar amor correspondido apenas uma vez na vida é sorte impossível de medir. Encontrá-lo mais do que uma vez, e ao mesmo tempo, é uma das definições de milagre. :)
Senhora dona menina Maria Rocha Felismina, textos divinais fazem de nós malmequeres brilhantes iguais. ;)
Olá.
Gostei muito do texto e trouxe-me recordações.
Que saudades do tempo em que me sentava num mar de pimpirlos, salpicado aqui e ali de vermelho e violeta enquanto os meus pais trabalhavam a terra do campo... depois cresci e fui obrigada a trabalhar também e apenas podia colher a flores pelo caminho. Mal-me-quer, bem-me-quer... e assim ia matando os pimpirlos até calhar a resposta que queria :P
Hoje esse mar já não existe.Simplesmente desapareceu pois esse campo não é tratado.
Mas ficam as fotos e as recordações. Um mar de flores e um chapéu de palha. :)
Olá, Cátia. :)
Sorri com as tuas recordações e aprendi uma palavra nova. Pimpirlos. Que palavra tão bonita. :D
E se não for correspondido, é mau? Não será pior não o sentir?
Pimpirlo é lindo! Dá vontade de pimpirlar... XD
Til existe por causa da não liberdade de expressão!
"...não querer saber..." é uma forma de sofrer!
Que saudades destes teus apontamentos,em forma de desconforto!Eu assumo*
É bonita essa tua preocupação assumida pelas flores!
carpe, nem sempre é mau. Porque nem sempre o amor encontra a pessoa certa para as circunstâncias. Esta pode não ser uma perspectiva muito romântica mas é muito real. :)
--
Til, um mundo sem flores deixa um vazio que pode ser preenchido de horrores. Todos devemos preocupar-nos com as flores. :)
Senhor Manuel Alves,cada um preenche o mundo da maneira que quer,mesmo que o faça de forma inconsciente...O mundo preenche-se com flores e com pessoas,muito poucas (eu e pouco mais hiii)!Quem preenche o mundo muito bem são as pessoas que escrevem muito bem (e não só)...Pessoas importantes,literalmente!Aguentas um elogio?,,,Senhor escritor/autor/ilustrador e fazedor de coisas lindas (lindas no sentido de bonitas)*
Til gosta de flores*
(não gosto de provar que não sou um robô,agora as evidências tem que ser provadas é?)
Til, viver é provar muitas coisas todos os dias. Em alguns aspectos, blogar é uma experiência semelhante. :)
Enviar um comentário