terça-feira, 22 de abril de 2014

porta aberta para longe

 imagem: Manuel Alves

Se o vazio no peito fosse coisa viva seria artista sem jeito nem habilidade criativa. Uma porta para longe de tudo, hábito de monge mudo. Agulhas a coser a alma, a doer, a torturar, a negar a morte calma. Lágrimas evaporadas do rosto, os olhos a reflectir a tristeza do sol-posto.
Assim, o fim do dia a dizer que, para mim, o ponto mais distante do mundo é a alegria. Os sonhos a falarem comigo, a recordarem-me coisas boas que não tenho por castigo. E tudo sem saber a razão da punição.
É a lição da vida. Mesmo a boa acção é punida.
Mas não sentir também pode ser justiça clemente quando o nosso coração é o único que sente. Uma pena que, sentimentos à parte, a vida perde a sua arte.
Quando o coração perde em vez de ser eleito a vida torna-se uma nação errada. A ironia do vazio no peito é não ter lugar para nada.

2 comentários:

Unknown disse...

Como sempre palavras bonitas cheias de simbolismo e sentimento :)
Meio triste mas sincera verdade..
Beijinhos

Manuel Alves disse...

Olá, Carla. :)
Há portas que devemos abrir e outras que é melhor deixarmos fechadas. A lotaria da vida. ;)