imagem: Manuel Alves
O fundo do poço é um corpo comido até ao osso. Embate-se
no fundo depois da rejeição do mundo. Vai-se a esperança e esquece-se a
bonança. Cada dia em que nos tiram tudo é mais um prego no caixão pela mão de
um coveiro mudo. Um homem presidente que nos serviria melhor se, em vez de homem senhor, fosse homem decente. Cada amanhã
é um levantar do colchão que nos faz arrastar os pés pelo chão. Nem chega a ser
desilusão de vida, é mais uma sensação de que alguém nos impede de aceitar uma
viagem oferecida. Alguém quem? As pessoas que deviam cuidar de nós mas que
quanto maior a necessidade mais nos deixam sós. Todos somos crianças do país em
que vivemos, crianças abandonadas pelos adultos que elegemos. Não são adultos,
são apenas vultos. Criaturas sem rosto que conhecemos apenas pelo posto. Políticos
somíticos. Ladrões de direitos, esses cabrões eleitos. Gostaria de ser rico e
ignorante. O resto não seria importante. Faria parte dessa classe culpada pelo
buraco sem fundo para onde atiraram o mundo. E, como eles, da abertura do poço,
ria-me de todos vós, caídos, abandonados, sós e de corpo comido até ao osso.
2 comentários:
Conheço bem o fundo do poço,já bati lá...Oh,tadinha d´eu!!!
E não gostava de ser rica nem ignorante...
Eu não sei onde vais buscar estas coisas,tens uma imaginação do caraças...
Beijo (normalmente vem depois de um abraço)!
Olá, tilida5ever design. :)
Eu vou buscar estas coisas ali... :D
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